MORRE AUGUSTO VERÍSSIMO, O ÚLTIMO MOICANO
MORRE AUGUSTO VERÍSSIMO, O ÚLTIMO MOICANO
Publicado em 08/12/2018 20:18
Texto por Mauro Bomfim
De Augusto Veríssimo guardo no coração as mais recônditas lembranças.
Um homem consagrado e verdadeiro até no nome. Augusto, que recebeu a consagração de seu povo da cidade de Fernandes Tourinho. Veríssimo de muito verdadeiro, de exato.
Seu desaparecimento enterra nos funerais da glória grande parte da história do Médio Rio Doce, assim como ocorreu com Ceciliano Abel de Almeida, com o velho Israel Pinheiro, com os irmãos Albergaria, com Sebastião Anastácio de Paula.
Augusto Veríssimo, último moicano do antigo PSD, o partido das raposas políticas que protagonizou três décadas de vitórias políticas significativas com Benedito Valadares, Bias Fortes, JK, o próprio Israel, Murilo Badaró, Tancredo Neves, seja no governo de Minas, no Senado e na presidência da República.
Tal como Augusto, o imperador da Pax Romana, a grande era de paz do maior império da humanidade, que governou pelo maior tempo, desde 27 a.C e até 14 d.C, o nosso pranteado Augusto Veríssimo comandou como timoneiro seguro e navegou pelos mares tranquilos da política regional, unindo sempre com a argamassa da concórdia e da tolerância grupos partidários que se engalfinhavam em disputas muitas vezes violentas nas cidades de Tarumirim, Itanhomi, Fernandes Tourinho, Sobrália e Engenheiro Caldas.
Os médicos justificarão certamente por que parou aquele coração. Mas em que lugar dessas cidades não se ouve bater o eco maravilhoso ?
Só a morte conduziria Augusto Veríssimo à inércia. Fui ao seu aniversário de 90 anos, momento radiante em que comemorou nos braços de seus familiares e de seu povo da querida Fernandes Tourinho. Em sua longevidade, não dispensava até os últimos dias de vida, uma boa prosa política, uma cervejinha gelada, o cigarrinho no canto da boca, sua marca inconfundível.
Desde vereador na Câmara de Tarumirim, no final dos anos 50, até a consagração como prefeito do antigo distrito e hoje município de Fernandes Tourinho, por vários mandatos, Augusto Veríssimo foi um guia político seguro dos companheiros de seu tempo, entre os quais amigos inseparáveis, como o meu saudoso pai Afrânio Bomfim, Duquinha, Dodolfo, Nemes Cotta Jordão, Fizico, José Laviola, Israelzinho Pinheiro, Badaró e mais tarde Ronaldo Perim, Zé Henrique e muitos outros, para ficar apenas nos que já se foram para o oriente eterno.
Desde então é possível recordar suas perambulações políticas, como se tivesse o dom da ubiquidade. Ora ajeitando um correligionário aborrecido, ora juntando as pontas do novelo de uma desavença política, como um exímio tecelão da democracia, ora no Rio de Janeiro na convenção do PSD de 1963 preparando o Movimento JK 65. Ou numa convenção municipal que dirigia como um mago, um guru político de todos nós, que a ele sempre recorríamos para uma palavra segura, um conselho, uma orientação despretensiosa. Augusto Veríssimo era o nosso Dalai Lama da política do leste de Minas.
Um jovem aos 92 anos. Gostava de falar, de conversar, e só sabia calar por emoção ou educação. Recolho dele a lembrança de uma visita em sua casa, onde, regado a uma boa cervejinha e tira-gostos, fiz uma gravação de quase duas horas com o nosso mais apurado mestre da arte política. Um tesouro histórico certamente.
Levaram o corpo de Augusto Veríssimo ao cemitério. Porém, trouxeram, para a comunhão, sua alma perpetuada nos exemplos de confiança na soberania popular.
------------------------''''-----------------------'''''------------------------
Mauro Bomfim - Advogado, jornalista e escritor.
por Mauro Bomfim